Professor Doutor Silvério

Blog Ser Escritor

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)


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terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Escritores são intelectuais?


Por: Silvério da Costa Oliveira.

Quando falamos sobre escritores e também sobre intelectuais estamos falando sobre categorias e também sobre títulos. Falar sobre título é algo interessante, pois, normalmente se acredita que os títulos são conferidos por uma dada instituição, como, por exemplo, as faculdades e universidades, mas nem sempre é assim.
Veja o meu caso, por exemplo, ao nível da graduação universitária possuo cinco títulos. Tenho a Licenciatura Plena em Psicologia, sou Bacharel em Psicologia e sou também Psicólogo. Engraçado que eu e outros tenhamos um título dado por uma faculdade dizendo que fulano ou cicrano é psicólogo, como se um mero papel obtido após cinco anos em uma faculdade transformasse alguém em psicólogo, mas é um título, fazer o que? Quem tem o título, neste caso um diploma universitário, é psicólogo, quem não tem não é.
Eu fiz também uma segunda faculdade, fiz o curso de filosofia e obtive mais dois títulos. Tenho a Licenciatura Plena em Filosofia e sou também Bacharel em Filosofia. Engraçado que ninguém recebe o título de filósofo, ao contrário do título de psicólogo. Em filosofia entendemos que o título de filósofo é dado pela própria pessoa, coerente com suas contribuições sociais. Por filósofo podemos entender alguém que seja formado em filosofia, mas também alguém que já tenha tido experiência lecionando filosofia, alguém que tenha trabalhos publicados sobre filosofia e acima de tudo, alguém que tenha suas próprias idéias filosóficas. Eu particularmente levei vários anos depois de formado para começar a me intitular filósofo, como hoje faço.
Agora vejamos um outro título, falemos um pouco sobre ser psicanalista. No Brasil não existe até o momento uma faculdade para formar psicanalistas, se bem que existam vários cursos sobre o tema. Eu particularmente conheço muito bem a teoria psicanalítica, já li por inteiro a obra de Freud por mais de uma vez, já lecionei sobre o tema, já escrevi sobre o tema e já utilizei-me da teoria psicanalítica em aulas e em trabalhos escritos para explicar situações sociais, como, por exemplo, o uso abusivo de drogas dentre outras situações, logo, sou psicanalista? Não! Eu não me identifico com postulados básicos da psicanálise, aos quais faço severas críticas, deste modo não seria correto me auto-intitular psicanalista.
Não existe uma faculdade que forme intelectuais ou escritores, apesar de haverem diversos cursos sobre a arte de escrever, inclusive no nível universitário, no entanto, não será algum diploma em papel que dirá que você é de fato e de direito escritor ou intelectual.
Lembro-me bem de uma entrevista que vi na televisão com o então candidato à presidência da república do Brasil e mais tarde eleito deputado federal por São Paulo por dois mandatos consecutivos, o senhor Enéas Ferreira Carneiro (1938-2007), no qual este falava que intelectual era todo aquele que cursava uma faculdade neste país. Eu particularmente fiquei horrorizado com tal declaração, pois, como docente de nível superior conheço muito bem meus alunos e posso afirmar sem medo de exageros que em nosso país poucos, pouquíssimos alunos e mesmo professores universitários podem receber o título de intelectual.
No meu entendimento o intelectual é alguém que lê muito, mas não somente isto, pois precisa compreender as idéias com as quais toma contato e saber articular criticamente estas idéias entre si, formando sua própria e embasada opinião. A razão é o seu instrumento e é pela racionalidade que propõe as suas idéias. Não necessariamente o intelectual cursou uma faculdade, pois, todos nascem com um cérebro e podem fazer uso deste de modo racional. A maioria, no entanto, prefere fazer parte do rebanho de ovelhas, enquanto o verdadeiro intelectual está mais próximo do lobo do que das ovelhas no rebanho. Eu me lembro que comecei a me auto-intitular intelectual brasileiro quando ainda estava cursando o segundo grau, hoje ensino médio. Na época eu já lia Platão, Aristóteles, Kant, Freud, Popper e muitos outros pensadores do passado e também contemporâneos a nossa época e fazia minha própria crítica a estas idéias e a sociedade na qual vivia. A qualquer momento em sua vida você pode se intitular um intelectual, dando-se este título, desde que você seja coerente com o que você de fato é. No transcorrer de minha primeira faculdade tive certa vez uma pequena discussão com uma colega de classe que ao me escutar dizer que eu era um intelectual brasileiro me questionou sobre quais livros ou artigos eu já tinha publicado (na época, ainda nenhum), ao que lhe respondi que ela estava completamente equivocada em sua visão de intelectual, pois eu não precisava publicar coisa alguma para sê-lo e muito menos ter um curso superior completo nisto ou naquilo outro.
Se concordamos que intelectual é um título que a pessoa dá a si mesma, sendo coerente com o que ela de fato é e faz, é provável que concordemos que o mesmo ocorre com o título de escritor. Algumas pessoas têm livros publicados, mas elas próprias não se consideram escritores. Não basta escrever ou publicar algo para ser um escritor, é preciso se assumir como tal e nem todos o querem. Ser escritor é uma atitude de vida, é também um direcionamento e projeto de vida. Já faz algum tempo desde que eu me assumi pessoal e profissionalmente como escritor, não sendo raro responder a pergunta sobre o que eu faço dizendo que sou escritor e docente e ganho a vida falando e escrevendo.
Todo escritor é também um intelectual? Ou, todo intelectual é também um escritor? Penso que a resposta para ambas indagações é um sonoro não. Não necessariamente o escritor será um intelectual e não necessariamente o intelectual será um escritor.
Um bom escritor é em verdade um pesquisador, pois deve conhecer melhor do que qualquer outro sobre aquilo que escreve, deste modo, um bom escritor é também um leitor voraz. É risível pensar em um escritor que não leia, não importa sobre o que este escreva. Nisto o bom escritor tem algo em comum com o intelectual, pois, este também é um leitor voraz. Outra coisa em comum que podemos facilmente encontrar entre o bom escritor e o intelectual é que ambos sabem como articular idéias. Não basta você ler e pesquisar, é preciso saber dar sentido e significado racional as informações coletadas. Há a necessidade de transformar informação em conhecimento e não se pode fazer isto sem saber como articular as idéias, de preferência de uma forma crítica, apresentando seu próprio posicionamento.
No mundo e em particular no Brasil, a figura do verdadeiro intelectual, bem como a do escritor, são bem raras, o que dizer então da junção de ambas na mesma pessoa? Trata-se de um modo de vida, bem como de uma atitude diante da vida e não somente sua vida pessoal, mas em particular sua vida profissional, pois, estamos falando também da inserção de um profissional dentro de uma sociedade consumista. Minha visão do escritor inclui o profissionalismo, trata-se de um profissional que ganha sua vida direta ou indiretamente por meio do que escreve.
O talento deve também estar presente, bem como a dedicação total e neste tocante é uma profissão que requer dedicação e aprendizagem. Particularmente a vida de escritor me lembra a vida dos atletas profissionais, em virtude de sua total dedicação ao que fazem e também ao fato de que somente poucos chegam realmente a subir ao pódio. Mas há aqui uma diferença fundamental, normalmente em termos cronológicos, a vida profissional do atleta se encerra na mesma época em que a do escritor profissional começa a desabrochar. São anos e anos de estudo e dedicação, mas quanto mais velhos, mais sábios vamos ficando e melhor vai se tornando a nossa produção intelectual.
No imaginário popular as categorias de escritor e de intelectual se revestem de diversos adjetivos e as pessoas assim rotuladas são vistas em um universo próprio e particular, distinto dos simples mortais. Por vezes, chega a ser bem engraçada a forma como as pessoas cotidianamente imaginam ser um escritor ou um intelectual. Abaixo, transcrevo trechos de um livro sobre estas duas categorias, o que nos permitirá vislumbrar o quanto à fantasia atua na criação da imagem destes dois personagens.
Vou agora transcrever trechos de um livro publicado originalmente em 1957 nos EUA e cujo título original norte-americano é: How to succeed with women: without really trying. A edição brasileira que estou utilizando é respectivamente:
MEAD, Shepherd. Como conquistar mulheres sem fazer força. 7. ed. Rio de Janeiro: Record.

Trecho de um livro sobre ser escritor:
“Escolher uma arte”
Ser escritor, pintor ou músico é garantia certa para aumentar o interesse das mulheres pela sua pessoa. Se você não tem que se preocupar em ganhar a vida trabalhando, se é dono de uma renda que o torna independente, ou, então, se tem amigas ricas, não hesite um momento sequer, e escolha logo uma arte.” MEAD, Shepherd. Como conquistar mulheres sem fazer força. p. 66.

Trecho de um livro sobre ser intelectual:
Seja intelectual
Todas as mulheres gostam de pensar que estão na companhia de um intelectual. Faça o impossível para que acreditem que estão mesmo.
Contudo, é muito melhor parecer um gigante mental do que sê-lo na realidade. Ser um gênio intelectual fará com que todas as mulheres o desejem, mas deixará muito pouco tempo para você dedicar-se a elas. Muito cedo aprenderá que, se existe uma coisa que as mulheres exigem em abundância, é tempo.
O primeiro passo será adquirir a aparência intelectual. O uso do cachimbo ajuda muito: cachimbo firmemente seguro nos dentes, mas que jamais deve ser aceso. As mulheres “adoram um cachimbo”, mas nunca o cheiro que dele se desprende. É evidente que, de vez em quando, é preciso acender o cachimbo, mas faça de maneira tal que ele se apague logo depois. Aliás, os cachimbos apagam sempre, queira você ou não.
Mantenha a testa permanentemente franzida, e ao mesmo tempo treine uma mecha de cabelo para cair descuidadamente sobre a testa.
O ambiente é importantíssimo também. Pelo menos uma parede repleta de livros é indispensável. Em lugar de destaque deve haver duas ou três prateleiras cheias de brochuras em francês.
“Sartre! Puxa, Lulu, eu o acho positivamente divino, e você?”
“Bem, jamais li obra alguma de Sartre em tradução, minha querida. Questão de ritmo. É completamente diferente.”
(Agarre imediatamente um volume qualquer e leia uma ou duas frases, sem jamais traduzi-las, porém.)
“Compreendeu o que eu queria dizer? A coisa flui, positivamente flui!”
“É mesmo, Lulu, é tão!... tão francês, não é?”
Meia dúzia de volumes em algum idioma obscuro, digamos árabe ou sânscrito, será excelente. Finja uma ignorância quase completa em relação à língua.
“Não, positivamente, não! Mas consigo distinguir uma palavra da outra. Trata-se de uma questão de imaginação, nada mais.”
Uma regular coleção de discos é de rigueur. Bom golpe é ignorar completamente os discos clássicos.
“Espero que você seja uma admiradora de coisas fora do comum, minha querida. Ouça só esse disco. Uma velha melodia gravada há muitos anos pelos Connecticut Yankees.”
“É?”
“A melodia não interessa, mas preste muita atenção ao ritmo. Algo de... bem, terrivelmente “real”. Chega a ser emocionante.”
Com certas mulheres é possível exibir uma formidável quantidade de virtuosidade intelectual com um mínimo de estudos.
“Oh, Lulu, Stravinsky!”
“Você também gosta dele? Acho que ele é muito, bem... compassado.”
“E vital também.”
“Você encontrou a definição exata. Vital. De uma maneira mais ou menos moribunda, não acha?”
O homem inteligente poderá manter a conversa nessa base durante horas e horas, apesar de não estar familiarizado com a obra de arte em discussão. O único perigo é torna-se específico. Por exemplo, a conversa acima pode vir a ter um fim melancólico:
“E vital também.”
“Vital? Que quer dizer com isto? Na verdade os trinta e dois primeiros compassos do prelúdio têm uma força definida, mas depois... quer me assobiar...”
Conversas assim acabam com qualquer amizade.” MEAD, Shepherd. Como conquistar mulheres sem fazer força. p. 62-66.

PERGUNTA: O que você pensa sobre escritores e intelectuais? Como você pensa que as pessoas em geral imaginam ser um escritor ou um intelectual?

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

3 comentários:

Antonio Ozaí da Silva disse...

Caro Prof. Silvério,

muito interessante e instigante o seu texto. Quanto à definição de "intelectual", trata-se de alho muito polêmico e que já rendeu muita bibliografia. Recentemente, por exemplo, li a obra de Edward Said, "Representações do Intelectual", sobre o tema. Escrevi na Revista Espaço Acadêmica algumas reflexões sobre o tema. Ver "Os intelectuais diante do mundo: engajamento e responsabilidade", publicado em http://www.espacoacademico.com.br/029/29pol.htm
Por outro lado, concordo que títulos acadêmicos não significam necessariamente que o indivíduo seja um bom escritor.
Seu texto também me fez lembrar o ensaio de Schopenhauer, "A arte de escrever".
Parabéns pelo blog e pelas reflexões sobre este tema.

Abraços e tudo de bom,
Ozaí

Anônimo disse...

Bem interessante e provocativo o texto... E o que dizer das citações ao final, falando sobre o imaginário das pessoas a respeito dos intelectuais e escritores!?!? Não consigo parar de rir...

A sua reflexão sobre os títulos acadêmicos e os títulos auto concedidos, nos faz pensar sobre como a sociedade ainda valoriza a posse dos diplomas. Não raro encontramos pessoas que são profundas conhecedoras de alguma área do saber, com um profundo posicionamento crítico e por isto são reconhecidas como intelectuais, mas por não possuirem os tão desejados títulos, acabam sendo rotuladas em uma nova categoria: a de "intelectualizadas".

Escritora Tânia Barros disse...

òtimo texto, as representações sociais sobre o inelectual muitas vezes me dão vontade de rir, gargalhar até, dependendo do caso. O há mais neste triste país são pessoas portantdo canudo de , mestrado, doutorado e nada sabendo, criticando, escrevendo. Como chegaram lá é fácil saber. Algumas cópias aqui, outras compras ali, um QI acolá. Mas, claro, não sãoa todos, óbvio, seria uma lástima imaginar que somos um país tão pequeno assim.

Conheço verdadeiros intelectuais que não fizeram mais que o segundo grau. Certamente, eu que volto para meu mestrado agora, sinto-me uma crítica, sim. Muito do que parei foi por total descrença no que via. Mas as coisas mudam e nós mesmos criamos novos altos roteiros de vôos. Portanto, cada ano para quem não desiste de de fato crescer, é um ano maravilhosamente novo!

abraço cordial